Após quase uma década de pesquisas com o patrocínio da Petrobras, o Projeto Ilhas do Rio lança sua terceira obra científica sobre o Monumento Natural das Ilhas Cagarras (MoNa Cagarras) e outras ilhas do litoral carioca. Em suas 360 páginas, o Guia de Biodiversidade Marinha e Mergulho das Ilhas do Rio traz fotos exclusivas, mapas, dados, curiosidades e dicas publicadas pela primeira vez. São informações úteis para praticantes de mergulho e para os demais interessados em temas como o patrimônio genético, paisagístico e histórico da região. Editado pelo Museu Nacional, o guia bilíngue (português e inglês) terá distribuição gratuita e será enviado para instituições de história natural do mundo inteiro. O guia pode ser baixado em PDF a partir do dia 23 no site do Projeto Ilhas do Rio, democratizando o acesso ao conhecimento científico.
Escrito com a colaboração de 19 autores e instituições do Rio de Janeiro e São Paulo, o guia reúne uma parcela de um vasto banco de dados e imagens, com cerca de 20 mil fotografias submarinas, reunido pelo Projeto Ilhas do Rio desde 2011. A publicação apresenta diversos registros inéditos da vida marinha, incluindo algas, invertebrados, peixes, aves e cetáceos, além de características e peculiaridades dos ambientes onde toda essa biodiversidade se desenvolve. Além das seis ilhas que compõem o MoNa Cagarras – Palmas, Cagarra, Redonda, Comprida, Filhote da Cagarra e Filhote da Redonda – a publicação abrange ainda as ilhas Rasa e Cotunduba e os Arquipélagos das Tijucas e Maricás.
As fotografias trazem identificação científica e o nome popular das centenas de espécies, além de detalhes como fases de vida e colorações distintas entre machos e fêmeas. Também são apresentadas interações ecológicas registradas nesses ecossistemas. Os grandes grupos da flora e fauna marinhas são apresentados em ordem evolutiva, acompanhados de um texto introdutório para Algas, Invertebrados Bentônicos (Esponjas, Cnidários, Crustáceos, Moluscos, Briozoários, Equinodermos e Ascídias), Peixes, Aves e Cetáceos. Dentro de cada um desses grupos, as espécies são divididas em classes, ordens ou famílias e gêneros, e apresentadas em ordem alfabética de maneira prática para a busca de leitores não especialistas.
Por estar na rota das atividades desenvolvidas na Bacia de Santos, o conhecimento sobre as Ilhas Cagarras é considerado muito importante por profissionais que atuam com meio ambiente. Essas ilhas abrigam o segundo maior ninhal de fragatas do mundo, com mais de 5 mil aves dessa espécie só na ilha Redonda. O local também tem uma enorme colônia reprodutiva do atobá marrom, na Ilha Cagarra, habitat de aproximadamente 2,5 mil aves. O entorno das seis ilhas que compõem o MoNa Cagarras é ainda considerado local de descanso e procriação de golfinhos e baleias.
A obra destaca um total de 302 espécies marinhas – 17 algas, 158 invertebrados, 116 peixes, 5 aves e 6 cetáceos – entre comuns, raras, endêmicas, ameaçadas de extinção e com valor econômico. Elas foram identificadas a partir de pesquisas científicas realizadas pelo Projeto Ilhas do Rio entre 2011 e 2019, em colaboração com pesquisadores especialistas de diversas instituições.
Entre as espécies descobertas e registradas no guia, está a esponja-carioca (Latrunculia janeirensis). Ela é uma das três espécies de esponjas-marinhas classificadas na categoria “vulnerável” do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado pelo ICMBio em 2018. É considerada uma espécie rara e endêmica do Rio de Janeiro, encontrada nas Ilhas Redonda e Rasa, entre 15 e 30m de profundidade, difícil de ser visualizada no fundo por sua coloração marrom-esverdeada. Outra esponja marinha documentada é a Petromica citrina, ou esponja-dourada. Ela tem sido estudada para o desenvolvimento de novos medicamentos e se revelado promissora como um potencial antibiótico no combate de bactérias resistentes a medicamentos atuais. Nesse sentido, as Ilhas Cagarras tem sido uma importante fonte de material para as pesquisas desenvolvidas por instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Outra espécie citada é o polvo Octopus vulgaris. De alto valor econômico para a atividade pesqueira, o polvo é comum da região. Mesmo com a pesca proibida nos limites do Monumento Natural das Ilhas Cagarras, a Unidade de Conservação contribui para a manutenção dos estoques pesqueiros. Isso ocorre porque a área protegida funciona como importante local de reprodução e criação para muitas espécies exploradas comercialmente.
O livro contribui também para a segurança de mergulhadores ao apresentar espécies potencialmente perigosas. É o caso do ouriço-do-mar-gigante (Diadema antillarum) que, apesar de raro nas ilhas do litoral carioca, pode causar ferimentos ao contato direto com seus espinhos, de cerca de 30 cm de comprimento.
O guia traz 10 pontos de mergulho selecionados dentre uma ampla gama de opções, contemplando ilhas do MoNa Cagarras e de fora, nos limites geográficos da malha amostral do Projeto Ilhas do Rio. A publicação traz informações sobre o deslocamento até as ilhas, a partir da entrada da Baía de Guanabara, a localização dos pontos de mergulho, indicação da profundidade local, além de dicas sobre fauna e flora específicas. As informações incluem ícones sobre a qualidade do mergulho, formação do fundo, curiosidades, nível de experiência pessoal exigida, visibilidade da água e intensidade das correntes.
Só na Ilha Rasa há três pontos com diferentes níveis de dificuldade, entre eles, o Naufrágio Buenos Aires, vapor alemão naufragado em 1890, indicado para mergulhadores mais experientes. Para os iniciantes, a dica é a grande caldeira do Moreno, navio francês que repousa nas Ilhas Maricás desde 1874. Na Ilha Cagarra, o melhor ponto é o canal (face sul) com nível de dificuldade média, onde, com sorte, é possível ver a esponja-dourada citada anteriormente. Na face Norte da Ilha Redonda, que em geral apresenta as melhores condições para a prática, vale a pena ficar de olho nas cores vibrantes da garoupinha-língua-de-lixa (Pronotogrammus martinicensis), vista no fundo da ilha.
O projeto Ilhas do Rio faz parte da Rede Águas da Guanabara, a Redágua, grupo de cinco projetos patrocinados por meio do Programa Petrobras Socioambiental que vem desenvolvendo ações no território Baía de Guanabara, onde temos atividades de refino, distribuição e transporte de combustíveis. Com a parceria da Petrobras, os projetos Guapiaçu Grande Vida, Uçá, Meros do Brasil, Coral Vivo e Ilhas do Rio trabalham com conservação e educação ambiental além de relacionamento comunitário.