Para a Sylvia Anjos, uma aula de geografia sobre a formação da Cordilheira dos Andes foi o impulso de que precisava para iniciar sua jornada pelo conhecimento. O movimento transformador das placas tectônicas — capaz de alterar a dinâmica de todo um continente — aguçou sua curiosidade e lhe trouxe uma nova perspectiva a respeito do mundo:
"Quando a professora começou a falar que os Andes subiram e isolaram o mar que havia onde hoje é a Amazônia, aquilo abriu meus olhos. Percebi o quanto a geologia é fascinante, pois é a única ciência que nos dá uma noção em quatro dimensões — afinal, é preciso entender o que aconteceu para entender o hoje."
Com a percepção de que a geologia lhe traria uma visão ampla de tudo, Sylvia decidiu prestar vestibular na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e buscar experiências de estágio no setor. Há 38 anos fazendo parte de nossa força de trabalho, ela foi a primeira mulher a trabalhar embarcada e, atualmente, é Gerente de Geologia e gerente geral de Applied Technologies de Libra, no pré-sal.
Como reconhecimento por sua capacidade técnica e sua dedicação no campo das geociências, Sylvia recebeu um dos prêmios mais relevantes do mundo nessa área, o AAPG Distinguished Service Award for 2017, oferecido pela Associação Americana de Geólogos de Petróleo (American Association of Petroleum Geologists).
Referência como mentora
Para Sylvia, conhecimento existe para ser compartilhado. Para Nilo Matsuda e Carlos Manuel de Assis, dois de seus orientandos em projetos acadêmicos e, atualmente, geólogos em nosso Centro de Pesquisas, esse compromisso é evidente:
“Ela sempre incentiva as pessoas a se capacitarem e fazerem pós-graduação. Fiquei moldado ao estilo dela de trabalhar e aprendi muito”, conta Nilo. Carlos complementa: “Ela é uma das pessoas mais inteligentes que eu já conheci. É determinada, objetiva, consegue tudo o que quer. Foi a melhor gerente que eu já tive."
E não é só dentro da companhia que Sylvia ajuda a formar novos geólogos. À frente da presidência da Associação Brasileira de Geólogos de Petróleo (ABGP), ela participa, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do projeto Geólogos do Amanhã — que, há cinco anos, promove workshops para professores da rede pública de ensino. O objetivo é que os docentes levem mais conhecimento sobre geologia para as salas de aula.
Outro projeto do qual participa é a Casa de Pedra, coordenado pelo professor Ismar de Souza Carvalho, também da UFRJ. A iniciativa conta com apoio da ABGP e oferece alojamento para que estudantes e professores possam realizar estudos de campo de fósseis na Bacia do Araripe, na divisa entre Pernambuco e Ceará.
Sylvia reforça a importância do papel das associações como multiplicadoras de conhecimento:
“Faço esse trabalho na ABGP porque sinto uma necessidade de devolver alguma coisa. Me vejo na obrigação de tentar implantar aqui no Brasil algo do que vi ao redor do mundo. As associações têm esse papel de divulgar, de fazer com que ideias sejam compartilhadas.”
Por fim, ela lembra que sua jornada insaciável pelo conhecimento se confunde com a nossa própria história. “Primeiro, encontramos o maior campo terrestre de petróleo do Brasil, em Carmópolis. Depois fomos para o mar e encontramos o campo de Guaricema [ambos no estado de Sergipe]. Foi isso que nos deu base para encontrar o pré-sal. Somos respeitados pelo conhecimento, descobrimos tudo através disso”, conclui.