O sol brilha para todos
Conheça Diana, coordenadora na plataforma P-47
“A gente trabalha é para fazer a diferença. É o que a gente tenta fazer todos os dias”, diz Diana.
O sol aponta no horizonte no meio do Oceano Atlântico. Mais uma manhã se inicia. A bordo da P-47, Diana acorda e se prepara para um novo dia de trabalho. Filha de pai petroleiro, ela conheceu desde cedo o amor pelo mar e aprendeu o valor do trabalho. “Sempre trabalhei pesado porque meu pai também me ensinou, desde pequena, que a gente tinha que correr muito atrás”.
Diana trabalha embarcada, ficando 14 dias seguidos na plataforma, com dezenas de pessoas, a maioria masculina. Ela é coordenadora de embarcação. Sob sua coordenação, uma equipe de cerca de 20 pessoas, entre marinheiros, contramestres, profissionais de cabotagem, salvatagem e movimentação de cargas.
A coordenação veio depois de muito suor. São mais de 16 anos de empresa, quase sempre embarcada, primeiro como técnica de operação, depois como técnica de estabilidade. “Eu me esforcei muito para isso e eu me esforço sempre. E, em determinado momento, eu percebi que eu tinha – eu tenho – que me esforçar muito mais para ter o reconhecimento das coisas”.
Para ela, não foram poucos os desafios. Diana é minoria. A ascensão na carreira, culminando com o novo cargo, alcançado no ano passado, ocorreu em paralelo com um crescimento muito maior. Uma transformação. Diana é uma mulher trans. Em outras palavras, quando nasceu, teve o gênero masculino designado a ela, mas ela não se identifica com este gênero.
Uma mulher, o mesmo trabalho
Diana, neste momento, passa por uma etapa de transição e vive todos os desafios que isso traz consigo.
“A transição é muito complicada. É um conflito interno, né? Porque os hormônios mexem demais com a gente. E a gente fica naquela dúvida: é isso mesmo, Deus, isso que eu estou fazendo é certo? E você vai aprendendo. Quando eu voltei da minha primeira cirurgia, que foi realmente quando mudou, porque eu comecei a me vestir como mulher, colocar o meu cabelão, e para mim foi muito mais complicado de eu me ver desta forma”.
“Eu acho que a gente tem que saber separar nossa vida pessoal do nosso trabalho, então eu nunca vi necessidade nenhuma de ninguém saber de nada sobre mim, ou o que eu fazia ou deixava de fazer. E eu pensava: eu não mudei nada, meu trabalho é o mesmo. Só mudei fisicamente. Mas, ali, eu percebia um preconceito”.
Foram em momentos difíceis em que Diana lembrou do aprendeu de mais valioso de sua mãe, reforçando o quão importante é ter apoio e acolhimento dentro de casa para conseguir lidar com o que há do lado de fora. “Minha mãe me ensinou a não baixar a cabeça e nem levar desaforo para casa. Então, na minha vida, normalmente eu não deixo que ninguém me constranja”.
Um novo olhar
Com o tempo, Diana percebeu que a chave estava no diálogo, e isso mudou bastante o seu entorno.
“Trabalhar em um ambiente completamente masculino não é fácil. O trabalho embarcado já é mais cansativo mentalmente, por isso é essencial ter uma boa ambiência. Tudo fica mais leve. É por isso que a gente trabalha com muita conversa e isso eles falam que mudou bastante de quando eu cheguei aqui. Porque, do contrário, você não tem rendimento, e o risco de brigas e conflitos acaba sendo maior”.
Com as mudanças, ela percebeu que o apoio da liderança é fundamental para garantir um ambiente de respeito e dignidade para todos.
“É muito importante o papel de uma liderança que te apoia e te dá a oportunidade de mostrar realmente que você sabe, que te dá essa confiança. Foi isso que eu aprendi e é isso o que eu busco mostrar para a minha equipe. Eu amo meu trabalho, eu sempre amei o meu trabalho. A gente trabalha é para fazer a diferença. É o que a gente tenta fazer todos os dias”.
A história da Diana é uma só. Ela é mais uma mulher tentando trabalhar, pagar as contas, se divertir, viver, como milhões de brasileiras. E nós usamos esse dia, 17 de maio, todos os anos, para lembrar o que nunca deveria ser esquecido: que a Diana merece não apenas existir, mas ser feliz, prosperar, ter uma carreira, ser vista e respeitada.
“Eu escolhi ser feliz. Para mim, era o mais importante. Minha vida é lá fora. E também aqui”
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